A morte conversava baixinho, todos os dias, com o velho pai. Contava de suas aventuras desde o início dos tempos, de tudo que tinha ouvido e presenciado enquanto visitava vilarejos, cidades, reinos longínquos de contos de fadas, casas simples e mansões.
O valho pai escutava receoso, às vezes com o olhar assustado, outras vezes meio inconsciente. Eram tantas as histórias, e tão estranhas e inevitáveis que faziam o homem sentir medo, buscar fugas impossíveis, imaginar meios de passar desapercebido pela Morte, quem sabe ser deixado de lado mais um tempo, sendo esquecido num cantinho qualquer.
Mas ela, atenta, voltava sempre, às vezes pegando suas mãos magras, outras vezes tendo que segurá-lo no colo. E sussurrava palavras que se iam esvoaçando como as folhas no outono, carregadas pelo vento forte.
O velho pai, fragilizado pelas mazelas diárias, buscava fragmentos de seu passado, de esperança, e sentia a vida, como água cristalina, se esvair por entre seus dedos trêmulos.
E o coração cansado, debilitado por tanta vida e sofrimento, diminuía seu ritmo, seu pulsar, guardando suas últimas forças para o que ainda estava por vir.
O velho pai tremia de frio, de receio pelo que não conhecia, pelo que sua imaginação de poeta deixava entrever quando fechava seus olhos secos e cansados.
A Morte, sempre paciente, esperava. O ciclo da vida, mão de única via, tinha seu próprio tempo. O velho pai continuava, sabendo que certas batalhas são vitoriosas, mesmo quando perdidas.
E as ondas do mar, misturadas com a chuva que caía nesse mês de inverno nordestino, molhava seus pés frios, vestidos com meias novas, brancas.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
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