quinta-feira, 29 de outubro de 2009

VESTÍGIOS

Quando a noite invade meu quintal
E o silêncio reflete o que trago no peito
Escuto as vozes do vento sussurrando chuva em meus ouvidos.

Nada mais triste que o constante gotejar da solidão
Daquela mulher que vai atravessando pontes,
Em busca daquele que já morreu.

Nada mais triste do que a luz que se finda
Ao último sopro chamejante de vida
Que se esvai em sombras na madrugada vazia.

Enquanto escuto o silêncio imagino vidas
Que se erguem para o sol
E mãos que seguram agulhas e cemitérios.

As janelas se abrem invadindo os cômodos
E soprando vida!

E a mulher se vê no espelho
E conta suas rugas e seus cabelos brancos
E sua boca murcha se abre em sorrisos
Feitos de sal e ferro.

Quem imagina histórias de dor apenas
Não conhece nada.

Ela ri, gargalha, e se vê jovem,
Correndo pelas ruas,
Margaridas em seus cabelos
Vestido branco,
Descalça,
Atrás de um raio de sol.

Seus olhos negros miram o passado distante
E sonham – ainda – com outros mares a desbravar!

Ela admira seu pulsar e sorri – triste e saudosa.
Ela vive, apenas!